Sem que ninguém sugerisse e muito menos o obrigasse, o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, atravessou a rua para pisar em uma atraente casca de banana.
Sorte dele que o país está de férias, o Congresso em recesso, a procura por notícias é baixa, e há que deixar passar o carnaval para que as coisas voltem a funcionar.
Haddad mal começara a comemorar seus inegáveis feitos na condução da economia em 2023 quando um repórter do Globo lhe apontou a casca de banana:
O senhor teve atuação decisiva para o governo este ano com a aprovação da agenda econômica no Congresso. Muita gente diz que isso o coloca como possível sucessor do presidente Lula. Como avalia essa ideia?
Haddad poderia ter avaliado a ideia de várias formas. A evasiva: “É muito cedo para tratar do assunto e eu tenho mais o que fazer”, insistindo com a resposta caso a pergunta se repetisse.
A forma laudatória, que certamente agradaria a Lula: “O presidente é quem comandará o processo de escolha do seu sucessor. O que ele fizer estará bem-feito”.
Mas, não. Haddad preferiu matar a bola no peito e aceitar o desafio de ir em frente:
“Acredito que existe consenso dentro do PT e da base aliada sobre a candidatura do presidente Lula em 2026. Na minha opinião, é uma coisa que está bem pacificada. Não se discute.”
Mas em algum momento o presidente precisará de um sucessor.
“O Lula foi três vezes presidente. Provavelmente, será uma quarta”.
Ao mesmo tempo que é um trunfo ter uma figura política dessa estatura por 50 anos à disposição do PT, também é um desafio muito grande pensar o day after.
“Eu não participo das reuniões internas sobre isso. Mas, excluído 2026, o fato é que a questão vai se colocar. E penso que deveria haver uma certa preocupação com isso.”
Aqui, deveria ter soado um alerta para que Haddad. Se Lula for candidato à reeleição em 2026, por que começar a falar a respeito desde já? Mas Haddad queria continuar falando.
O senhor pensa na possibilidade de um dia ser sucessor do presidente Lula?
“Eu não penso. E só passou pela minha cabeça em 2018 porque era uma situação em que ninguém queria ser vice do Lula. E aí, um dia, ele falou: “Haddad, acho que vamos sobrar só nós dois”. Eu disse: ‘Pense bem antes de me convidar, porque vou aceitar’. E acabou acontecendo.”
Acabou acontecendo também a pergunta que Haddad só faltou pedir para que fosse feita:
O PT aprovou documento que fala de ‘austericídio’ (suicídio econômico por políticas de cortes de gastos), de uma corrente encampada pela presidente Gleisi Hoffmann. Quem faz mais oposição hoje ao senhor, o PT ou o ministro da Casa Civil, Rui Costa?
“Olha, é curioso ver os cards que estão sendo divulgados pelos meus críticos sobre a economia, agora por ocasião do Natal. O meu nome não aparece. O que aparece é assim: “A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula!” E o Haddad é um austericida. Então, ou está tudo errado ou está tudo certo. Tem uma questão que precisa ser resolvida, que não sou eu que preciso resolver.”
“Não dá para celebrar Bolsa, juros, câmbio, emprego, risco-país, PIB que passou o do Canadá, essas coisas todas, e simultaneamente ter a resolução que fala ‘está tudo errado, tem que mudar tudo’. Alguma coisa precisa ser pensada a respeito, mas não tenho problema com isso.”
Mas isso atrapalha de alguma forma?
“Eu fui criticado no MEC, mas virei o melhor ministro da Educação da história do país, depois que deixei o MEC. Melhor prefeito da história de São Paulo, depois que deixei a prefeitura. Tomara que aconteça a mesma coisa agora (como ministro da Fazenda).”
Haddad chamou o PT para brigar. Por que chamou? Chamou por quê? Aí só ele sabe. A deputada Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, topou a briga.
Segundo Gleisi, criticar o Ministério da Fazenda é direito do partido e debater a sucessão de Lula é coisa “extemporânea”. Enquanto Haddad acertar, Lula estará ao seu lado.